PIB SE RECUPERA, MAS GERAR EMPREGOS AINDA É UM DESAFIO; LEIA ANÁLISE

Economia cresceu mais que o esperado; dúvida é se esse é um movimento sustentável (Por Alexandre Calais*) - foto Paulinho Costa


quarta-feira junho 2, 2021

O Brasil terminou 2020 em meio a pelo menos duas catástrofes: a sanitária, com cerca de 195 mil mortes pela covid-19 (uma média de 665 por dia desde a primeira morte, em 12 de março), e a econômica, expressa em uma queda de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2021, o cenário mudou. A catástrofe sanitária piorou: no primeiro trimestre, o número de pessoas que perderam a vida para a covid chegou a 123,5 mil, uma média de 1,37 mil por dia. Mas a economia deu sinal de vida e subiu 1,2%, um número surpreendente.

Na economia brasileira, é sempre uma tarefa inglória relacionar os números da atividade com a vida real, embora não sejam coisas incompatíveis. Neste momento, por exemplo, o País bate recordes de desemprego. Muita gente depende do auxílio emergencial do governo, este ano muito menor que o do ano passado, para sobreviver. Mas, na economia, as exportações, por exemplo, também batem recorde.

Há mundos muito diferentes dentro da economia. Veja o agronegócio: parece desconhecer a palavra crise. De janeiro a março, o setor cresceu espantosos 5,7%, puxado por uma demanda global muito forte pelos produtos agrícolas nos quais o Brasil é um grande fornecedor internacional, como a soja e o milho, o que fez disparar os preços.

Essa demanda global crescente pelas commodities também puxou a indústria, que subiu 0,7% no primeiro trimestre. Nessa conta entram o minério de ferro e o petróleo, produtos nos quais o Brasil também é forte e cujos preços também dispararam.

Mas esses não são os setores que mais empregam. O grosso das pessoas trabalha no setor de serviços, e esse tem tido um desempenho mais modesto. Registrou uma alta de 0,4% no trimestre – depois de uma queda de 4,5% no ano passado. Esse é o setor que depende talvez mais diretamente da vacinação em massa para se recuperar. Sem isso, restaurantes, lojas, salões de beleza, por exemplo, não conseguem voltar à atividade normal, e não vão empregar. Gerar empregos é o desafio mais imediato para conter a catástrofe social.

Há outros desafios, claro, no caminho da recuperação econômica. Se a vacinação não acelerar, se novas variantes do coronavírus surgirem, as mortes voltarem a subir, houver mais fechamentos das cidades, qual será o efeito? Se a demanda pelas commodities começar a arrefecer, o que pode acontecer?

A inflação também pode provocar algum desarranjo. Alguns analistas já veem o IPCA chegando a mais de 8% neste meio de ano no acumulado em 12 meses. O IGPM anual está perto de 40%, puxado exatamente pela disparada das commodities. Com isso, o juro básico (a Selic) já está subindo, e as previsões para o ano já chegam a 6,5%. Ainda baixo para o padrão Brasil. Mas não é mais o juro de 2% do início do ano.

E tem as reformas, claro. Sempre apontadas como fundamentais para o crescimento sustentado do País, mas sempre negligenciadas. A tributária, fatiada no Congresso, caminha para ser apenas um arremedo de reforma, com impacto muito menor do que as empresas, principalmente, realmente precisam. A administrativa, também fundamental para modernizar a estrutura do Estado e reduzir os gastos do governo, também parece que dificilmente vai andar – como revelado aqui no Estadão, o presidente Bolsonaro não parece que vai mover alguma palha em prol dessas mudanças.

Ou seja, o PIB do primeiro trimestre surpreendeu e isso é algo para ser comemorado. Mas a trajetória da recuperação ainda tem obstáculos demais a serem removidos. *EDITOR DE ECONOMIA  (Fonte: Estadão)

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