Recuperação da economia brasileira se deve a uma combinação de estímulos; leia análise
A expansão observada no primeiro trimestre do ano coloca o nível do PIB virtualmente em seu patamar pré-pandemia
quarta-feira junho 2, 2021
Mário Mesquita*
O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre consolida a recuperação da economia brasileira, depois do choque ocasionado pela chegada ao País da pandemia de covid-19, no fim do primeiro trimestre de 2020. A expansão observada no primeiro trimestre do ano coloca o nível do PIB virtualmente em seu patamar pré-pandemia (isto é, o do último trimestre de 2019).
Como antecipado por indicadores setoriais, a recuperação tem sido heterogênea, e as diferenças são explicadas pela sensibilidade de cada setor ou atividade em relação à pandemia.
O PIB do setor de serviços ficou cerca de 2% abaixo do patamar pré-covid, mas com grande variância dentro do setor (por exemplo, atividades imobiliárias ficaram 5% acima do patamar anterior à pandemia, ao passo que serviços de educação e saúde públicas se situaram 4,5% abaixo do mesmo, e outros serviços, que incluem hotéis, bares e restaurantes, tiveram contração de 9,5%).
Já o PIB industrial mostrou expansão próxima a 2%, e o agrícola crescimento de 6%, em relação aos níveis anteriores à pandemia.
Se considerarmos a comparação trimestral, do lado da oferta, o destaque foi o setor agrícola, com alta de 5,7%, enquanto o investimento, com expansão de 4,6%, liderou o PIB pelo lado da demanda. Ambos refletem, em alguma medida, o desempenho favorável dos preços de matérias-primas observado desde meados de 2020.
A recuperação da economia brasileira no primeiro trimestre se deve a uma combinação de estímulos, notadamente o efeito defasado da política monetária, o forte crescimento da economia mundial, que ajuda a sustentar os preços de matérias-primas, e à reversão do aumento da poupança das famílias observado no ano passado.
O dado do PIB do primeiro trimestre gera viés de alta para nossa projeção de crescimento, de 5,0% no ano. Os riscos a serem monitorados são, claro, a própria evolução da pandemia de covid-19 e, também, a possível restrição à oferta de energia elétrica.
Resumindo, a retomada em 2021 está bem mais próxima de ser em “V”, do que em “U”. Já a perspectiva para 2022 é mais complexa, pois teremos uma economia com os mesmos problemas fiscais, menos estímulo monetário e impulso externo mais moderado.
*ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO
Notícias SEEB-MURIAÉ