CITI É O BANCO FAVORITO PARA LAVAGEM DE DINHEIRO, DIZ POLÍCIA DOS EUA
Investigação aponta que traficantes de drogas da Califórnia teriam depositado dinheiro ilícito na instituição por meio de caixas eletrônicos (Por Joe Miller) - log Citi divulgação -
terça-feira julho 2, 2024
Traficantes de drogas escolhem lavar dinheiro através do banco americano Citigroup porque acreditam que a instituição é “mais favorável”, com controles de fraude menos robustos, segundo autoridades policiais dos Estados Unidos.
Em uma acusação revelada na semana passada, promotores dos EUA detalharam como dois moradores da Califórnia, que supostamente trabalhavam com o cartel de Sinaloa, depositaram dezenas de milhares de dólares nos caixas eletrônicos do Citi.
Em pelo menos três ocasiões separadas em janeiro de 2021, eles supostamente depositaram um total de quase US$ 36 mil (R$ 201,6 mil, na cotação atual) em dinheiro ilícito nas máquinas, divido em depósitos menores, esperando apenas um ou dois minutos entre cada transação.
Dividindo a quantia em depósitos menores, afirmam os promotores, o valor de cada transação permaneceu abaixo do limite de US$ 10 mil (R$ 56 mil) no qual os bancos são obrigados a relatar transações em dinheiro ao Tesouro americano.
Autoridades da Administração de Repressão às Drogas (DEA, na sigla em inglês) disseram ao Financial Times que a dupla, acusada de fazer parte de uma vasta rede criminosa que lavou pelo menos US$ 50 milhões (R$ 280 milhões) em receitas obtidas com a venda de fentanil e metanfetamina nos EUA, investigou vários bancos antes de escolher o Citi.
“Há bancos que prestam menos atenção do que outros”, diz um oficial sênior.
“Houve dois casos em que, nesta investigação, tivemos lavadores de dinheiro fazendo 24 depósitos consecutivos totalizando US$ 16 mil (R$ 89,6 mil) em um caixa eletrônico do Citibank… Houve 15 depósitos consecutivos totalizando US$ 20 mil (R$ 112 mil) também em um caixa eletrônico do Citibank… Eles descobrem os lugares que são mais favoráveis para eles”, afirma outro oficial da DEA.
Embora não houvesse requisitos de relatório para as transações individuais, o padrão dos depósitos deveria ter despertado suspeitas, acrescenta o oficial.
Os dois homens —Guillermo Zambrano e Luis Belandria-Contreras— “definitivamente estavam tentando manter [os depósitos] abaixo do limite para não levantar bandeiras vermelhas, mas eu imagino que 24 depósitos consecutivos pela mesma pessoa, totalizando US$ 16 mil, acionariam algum tipo de alerta”, diz o oficial sênior.
A defesa de Belandria-Contreras não respondeu ao pedido de comentário. Já o advogado de Zambrano, John Targowski, disse que seu cliente se envolveu nos atos alegados apenas porque estava endividado e ameaçado de sequestro por um membro do cartel, e que pretendia “buscar uma defesa de coação”. Ambos se declararam inocentes.
O Citi se recusou a comentar o caso, citando requisitos de sigilo em torno do relatório de transações. O banco disse que possui “políticas robustas de combate à lavagem de dinheiro” e acrescentou que, quando encontra evidências de tal atividade, notifica as autoridades conforme necessário e coopera totalmente com qualquer investigação por meio de processos legais apropriados.
A acusação também detalha como outro réu, Jiayong Yu, supostamente depositou um cheque em um caixa eletrônico do JPMorgan Chase e “aproximadamente US$ 100 mil (R$ 560 mil) em dinheiro em um guichê do Chase Bank” no ano passado. Não houve sugestão de que o JPMorgan deixou de sinalizar a transação. O banco se recusou a comentar. Yu se declarou inocente das acusações. Seu advogado não respondeu a um pedido de comentário.
Autoridades policiais alertam há anos que traficantes de drogas mexicanos e cúmplices chineses estão se tornando cada vez mais hábeis em lavar dinheiro através do sistema bancário legítimo.
“Estamos vendo um grande aumento de dinheiro sendo depositado em bancos e depois transferido para onde quer que seja”, diz o oficial sênior da DEA. Ele acrescenta que dezenas de milhares de dólares têm sido enviados de volta para a China todos os meses por meio de instituições financeiras em Flushing, Nova York.
Em 2012, o Departamento de Justiça dos EUA multou o HSBC em US$ 1,9 bilhão (R$ 10,64 bilhões) por não impedir a lavagem de dinheiro por cartéis no México, após uma investigação descobrir que centenas de milhares de dólares estavam sendo depositados no banco todos os dias através de guichês nas agências do HSBC no México.
Os promotores disseram que os traficantes de drogas até “projetaram caixas especialmente moldados que se encaixavam nas dimensões precisas dos guichês”.
Esquemas de lavagem de dinheiro se tornaram muito mais sofisticados, por meio de um acordo mutuamente benéfico com chineses nos EUA que usam aplicativos criptografados, criptomoedas e transações em bancos chineses clandestinos para esconder seus rastros.
“Os cartéis estão desesperados para fazer com que o dinheiro proveniente da venda de drogas nos Estados Unidos retorne ao México”, disse no mês passado Martin Estrada, o procurador dos EUA para o Distrito Central da Califórnia.
“Os grupos chineses de lavagem de dinheiro, por outro lado, estão no negócio de ajudar chineses ricos a obter dinheiro no país e, assim, contornar os controles na China sobre a movimentação de dinheiro”. Graças à explosão no tráfico de fentanil, isso resulta em “suprimentos virtualmente ilimitados de dinheiro”, acrescentou Estrada.
Rastrear tais transações tem sido difícil para a aplicação da lei. “O crescimento e a expansão disso ultrapassaram o que a aplicação da lei consegue rastrear e monitorar”, diz o oficial sênior da DEA. (Fonte: Folha de SP)