MAIS DE 60 ANOS? VEJA DICAS PARA VOLTAR AO MERCADO DE TRABALHO

Idosos formam a maioria dos brasileiros que saíram do mercado de trabalho durante a pandemia e não retornaram, aponta IBGE


terça-feira agosto 22, 2023

Ter ampla experiência nem sempre é suficiente para conquistar uma vaga de emprego, especialmente para pessoas com mais de 60 anos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que os idosos formam a maioria dos brasileiros que saíram do mercado de trabalho durante a pandemia e não retornaram. Com a dificuldade de reinserção, é necessário ficar ainda mais atento às orientações e exigências das empresas.

A discriminação por conta da idade é conhecida como “etarismo”. De acordo com uma pesquisa feita pelo InfoJobs, 57% dos profissionais da Geração X, nascidos entre 1965 e 1979, já sofreram algum preconceito por causa da idade. Thais Carvalho, representante de RH do Grupo Epicus Outlier, explica que o etarismo é um dos fatores que dificultam a recolocação de pessoas mais velhas no mercado de trabalho, mas não é o único. Percepção da idade, mudanças nas habilidades, tecnologia e a competição com candidatos mais jovens também são obstáculos encontrados.
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Para isso, diz ela, o primeiro passo para quem quer retornar ao mercado de trabalho é fazer uma autoavaliação. “Ter uma compreensão clara de suas próprias metas e expectativas ajudará a guiar suas escolhas durante a busca por emprego”, destaca. Carvalho também aponta que refletir sobre habilidades e experiências anteriores faz parte do processo. “A conscientização sobre essas questões e o desenvolvimento de estratégias para enfrentá-las podem aumentar as chances de sucesso ao tentar retornar ao mercado de trabalho após os 60 anos”, completa.

Mesmo com o preconceito, a tendência é que esse grupo esteja cada vez mais presente no mercado de trabalho. De acordo com o IBGE, o número de pessoas com 60 anos ou mais na força de trabalho cresceu significativamente. Entre 2012 e 2022, o aumento foi de 727 mil pessoas. A tendência se deve em grande parte ao envelhecimento da população brasileira, que teve um salto de 11,3% em 2012 para 14,7% em 2021.

Políticas de contratação inclusiva
A representante de RH diz que muitas empresas já reconhecem o valor e a experiência que esses profissionais podem agregar no dia a dia. Por isso, explica, já existem iniciativas específicas para contratar pessoas com mais de 60 anos. “Esses programas podem incluir políticas de contratação inclusiva, treinamento e desenvolvimento voltados para esse grupo etário, bem como ajustes nas práticas de trabalho para atender às necessidades individuais.”

Segundo ela, esses programas ocorrem com frequência em multinacionais, e são cada vez mais presentes em empresas menores. “É importante verificar com empresas locais e pesquisar as oportunidades disponíveis em sua área’, alerta.
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Uma das empresas que oferece a iniciativa é o Grupo Pão de Açúcar, que conta com vagas exclusivas para pessoas com mais de 55 anos. A Unilever também promove contratações focadas nessa faixa etária. Outras companhias que apostam em ações de recrutamento voltadas a esse público são: Vivo, Grupo DPSP — que administra as as drogarias São Paulo e Pacheco — e a companhia aérea Gol.

O engenheiro de produção Gunther Ritter se aposentou aos 62 anos, durante a pandemia. Depois de passar “um tempo no merecido ócio”, ele sentiu o desejo de voltar a atuar na sua área. A experiência de 35 anos em cargos gerenciais permitiu a Ritter montar uma rede de contatos, o que lhe foi útil na hora da recolocação.

“Como lidei com muitos profissionais que atuam hoje em diversas empresas, usei esse conhecimento como ferramenta para retornar ao mercado de trabalho. Liguei, mandei mensagens, avisei que queria voltar a trabalhar. Enquanto não surgia um convite, fui me atualizar, saber o que havia de novo na minha área. Aproveitei o tempo livre e me matriculei em um curso de reciclagem em Engenharia de Produção. Entre tomar a decisão de voltar ao trabalho e receber o convite para ocupar a vaga, em março deste ano, se passaram cinco meses”, conta Ritter.
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Sobre o etarismo, o engenheiro conta que sentiu na pele a discriminação por conta da idade. Ele lembra que, em um dos contatos em busca de emprego, ouviu de um ex-estagiário seu que o mercado de trabalho era “refratário a velhos”.

“Hoje coordeno uma equipe de engenheiros com idades que variam de 31 a 44 anos. No início, senti que havia uma certa desconfiança, mas isso foi diminuindo com o passar do tempo. Eles entenderam que a experiência pode ajudar a resolver problemas que, a princípio, parecem sem solução”, lembra Ritter.

Dicas para quem quer voltar ao mercado de trabalho
Para quem quer retornar ao mercado em breve, é necessário ter atenção ao fazer o currículo. “Melhorar o currículo depois dos 60 anos requer destacar suas habilidades e experiências de maneira estratégica, focando na relevância para a posição desejada e demonstrando sua adaptabilidade”, diz Carvalho. Outro ponto importante é saber que a idade não é o principal, mas que “o objetivo é destacar suas qualificações, experiências e habilidades que são pertinentes para a posição, e mostrar que você está pronto para contribuir de maneira significativa”.

A montagem do currículo deve abordar alguns pontos, tais como: resumo de experiências anteriores, habilidades mais relevantes para a vaga e resultados e conquistas obtidos em sua carreira profissional. Com o avanço das tecnologias, a especialista também explica que fazer cursos e treinamentos são uma ótima opção para quem está afastado do mercado. “Cursos de idiomas, softwares, marketing digital e até mesmo de empreendedorismo estão cada vez mais em foco e são super válidos.”

Para isso, a dica é investir em plataformas com cursos on-line, que muitas vezes são oferecidos de forma gratuita, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O importante é escolher cursos que sejam relevantes para seus objetivos de carreira e que agreguem valor ao seu perfil. Ao atualizar suas habilidades por meio de cursos, você não apenas aumenta suas chances de se destacar no mercado de trabalho, mas também demonstra sua vontade de aprender e se adaptar às mudanças.”

* Matéria da estagiária Alexia Gomes, sob a supervisão de Marlucio Luna (Fonte: O Dia)