Dieese vê 2022 ‘mais do mesmo’ e receia crescimento zero, além de inflação ainda alta

Instituto aponta cenário de dificuldades, com ameaça de mais retirada de direitos. Indústria de transformação não mostra resultados positivos, aponta o Dieese. (Por Vitor Nuzzi, da RBA)


segunda-feira dezembro 27, 2021

Com recuperação tímida e desigual da economia após o início da pandemia, e muitas incertezas, o Dieese traça um cenário pessimista para 2022. Por enquanto, o instituto espera um ano “mais do mesmo”, com baixo crescimento e inflação ainda elevada. Mas o processo eleitoral deixa tudo ainda mais nebuloso.

“As eleições em outubro tornam as previsões ainda mais difíceis, ainda mais com um governo que busca a reeleição a qualquer preço, inclusive questionando, por antecipação, a lisura do processo eleitoral”, afirma o Dieese. “Assim, avalia-se que, em um cenário otimista, o PIB poderá crescer em torno de 1,4% e, em um cenário pessimista, poderá cair até 1,5%. No momento, o cenário indica crescimento zero (0%) em 2022”, acrescenta.

Efeito estatístico
Neste ano, o instituto acredita que o crescimento do PIB ficará entre 4% e 4,5%, mas salienta que isso se dará muito mais por efeito estatístico, já que a base de comparação é muito baixa. Em 2020, a economia caiu 3,9%, segundo dado revisado pelo IBGE. “Mostram claramente essa situação os resultados dos últimos trimestres. A indústria de transformação não apresentou qualquer resultado positivo em 2021, também na comparação trimestral”, lembra o Dieese, apontando ainda a queda na renda como outro fator que inibe a atividade.

“De fato, com um mercado de trabalho ainda deprimido e altamente precarizado e com poder de compra corroído pela inflação, o consumo interno não se tornará um vetor relevante de crescimento. Além disso, o investimento público – que também poderia ser uma alavanca para o crescimento econômico – não parece estar na rota do governo federal.” O Dieese cita ainda o “desmonte” do programa Bolsa Família e o número crescente de pessoas em situação de extrema pobreza: aproximadamente 15 milhões em setembro, ante 13 milhões em janeiro de 2019.

Continuação da “reforma”
A análise cita ainda possível “nova e intensa mexida na legislação trabalhista” planejada pelo governo, a partir de relatório entregue em novembro pelo chamado Grupo de Altos Estudos do Trabalho (Gaet), criado em 2019. São propostas, lembra o Dieese, que aprofundam ainda mais a “reforma” trabalhista de 2017, retirando direitos, aumentando a informalidade e a precarização, além de aumentar a insegurança jurídica e reduzir o papel dos sindicatos. “Ao invés de estimular o crescimento da economia, com investimentos, transferências de renda e valorização do trabalho, o governo aposta na retirada de direitos e desproteção.”

Em relação aos empregos criados nos últimos meses, o Dieese lembra que boa parte é de ocupações informais, “de modo que o mercado consumidor interno não tem força para promover um crescimento sustentado da economia”. E os preços dos alimentos seguem em alta, como mostra a pesquisa da cesta básica nas capitais, que já chegou a ultrapassar os R$ 700 (Florianópolis), o equivalente a 69,8% do salário mínimo líquido.

“Os preços dos alimentos, principalmente dos grãos, poderiam sofrer menos pressões se o governo reativasse a política de formação de estoques reguladores, utilizada desde os anos 1980 e praticamente desmantelada a partir de 2016, quando houve desmonte da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), empresa pública ligada ao Ministério da Agricultura”, diz ainda o Dieese. “Somente ao longo de 2019, o governo federal fechou 27 armazéns públicos da estatal. Em um país continental como o Brasil, a segurança alimentar da população tem a ver inclusive com a soberania nacional.” (Fonte: RBA)