Queda de eficácia de vacinas com o tempo reforça necessidade de terceira dose
Pesquisa realizada na Inglaterra conclui que imunizantes Pfizer e AstraZeneca têm proteção reduzida após seis meses. No Brasil, campanha de reforço deve começar em setembro. Ministério da Saúde anunciou nesta manhã que terceiras doses começarão a ser aplicadas em todo o país a partir do dia 15 de setembro. São Paulo e Rio de Janeiro vão antecipar (Por Gabriel Valery, da RBA)
quinta-feira agosto 26, 2021
Estudo realizado pela inglesa ZOE Covid, com financiamento do Departamento de Saúde e Assistência Social do governo inglês e divulgado hoje aponta queda da proteção contra a covid-19 de duas das principais vacinas em uso no mundo, Pfizer e AstraZeneca, após seis meses de aplicação da segunda dose. No caso da Pfizer, a eficácia geral cai de 88% para 74%. Já a AstraZeneca tem redução de 77% para 67%.
Outra análise similar já havia sido feita pela Universidade Católica do Chile. Os resultados apontaram para queda na eficácia também da CoronaVac após oito meses da segunda dose. Contudo, ambos os levantamentos reafirmam que as vacinas, desenvolvidas com agilidade inédita na história, seguem sendo a estratégia mais importante para reduzir que a contaminação pelo novo coronavírus evolua para um quadro de sintomas graves, que necessitem cuidados em UTIs e mortes. Mas reforçam que nenhuma vacina é 100% eficaz contra nenhum vírus. Por essa razão, muitos países já iniciaram a aplicação de doses de reforço em pessoas mais vulneráveis à doença, como idosos e imunodeprimidos.
Terceira dose à vista
O Brasil deverá seguir o mesmo procedimento. O Ministério da Saúde anunciou nesta manhã que vai iniciar, em todo o país, a aplicação da terceira dose nesta parcela da população a partir de 15 de setembro. Segundo o ministério, independentemente do imunizante que a pessoa tenha recebido nas duas primeiras doses, o fabricado pela Pfizer deverá ser o mais utilizado. Entretanto, Janssen e AstraZeneca também devem ser incluídos na campanha.
Alguns estados anunciaram, também hoje, a antecipação da nova fase de vacinação. É o caso de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em São Paulo, estado produtor da vacina CoronaVac, a partir do Instituto Butantan, o reforço será aplicado para idosos acima de 60 anos a partir do dia 6 de setembro. “Vínhamos batendo nessa tecla há algum tempo. A pandemia ainda é uma realidade e não podemos baixar a guarda. Vacine-se”, destacou o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), sobre o reforço da imunização. Já no Rio de Janeiro, apesar de sucessivas interrupções do calendário atual por falta de vacinas, o governo afirma que o reforço será iniciado no dia 1º de setembro. Os primeiros a receber a nova dose serão residentes de instituições de longa permanência (ILPI) acima de 60 anos.
Reforço necessário
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em seu boletim mais recente sobre a covid-19, divulgado hoje, reafirma a importância da dose de reforço. A entidade analisa que a tendência de queda nas mortes e internações se mantém no cenário nacional, mas “há uma estagnação proporcional na melhora para algumas faixas etárias, especialmente os idosos”. Diante disso, os pesquisadores defendem “um debate técnico sobre alternativas para a aplicação da dose de reforço ou para a combinação de imunizantes em idosos ou imunodeprimidos”.
Além disso, reforça a Fiocruz, é essencial controlar a transmissão do vírus. As vacinas oferecem alto grau de proteção, mas com a contaminação fora de controle, a ocorrência de novos casos, com parte deles levando ao óbito, as mortes seguirão em número elevado. Diante dos fatos e estudos, os pesquisadores e cientistas reforçam a recomendação por medidas não farmacológicas. “Neste contexto, enquanto a pandemia estiver em curso, além da necessidade de ampliar e acelerar a vacinação, é de grande importância para todos, mesmo os que tomaram vacinas, manter medidas como o uso de máscaras e de distanciamento físico”, completa a Fiocruz.
O biólogo e divulgador científico Atila Iamarino critica o abandono das medidas protetivas pelos estados e municípios. Em especial, aponta para o equívoco técnico que é pautar políticas sanitárias a partir apenas dos índices de ocupação de UTIs. É o caso de São Paulo, que decretou o fim da quarentena tão logo registrou queda nas internações. “São Paulo fala em fim de quarentena porque tem ‘só’ 40% de ocupação de leitos de UTI. Mas são 4 mil internados. São mais pessoas do que França, Espanha e Reino Unido somados. Os três países têm 180 milhões de habitantes, São Paulo tem 45 milhões”, comparou.
Nada tranquilo
O Brasil registrou hoje (25) 903 mortes por covid-19. Com o acréscimo das últimas 24 horas, as vítimas do coronavírus chegaram a 576.645. No período também foram notificados 30.671 casos da doença, totalizando 20.645.537 desde o início da pandemia, em março de 2020. Em todo o mundo, o vírus já matou mais de 4,5 milhões de pessoas na maior tragédia sanitária da humanidade em mais de 100 anos.
Por números assim, as medidas para conter a transmissão seguem essenciais, especialmente em um cenário em que o governo de Jair Bolsonaro dissemina mentiras sobre a segurança de vacinas e uso de máscaras, além de incentivar e promover aglomerações constantes. “Esse é um dos problemas dessa gestão por ocupação de UTI que temos em um país onde faltam testes e um plano nacional de combate à covid-19”, completou Atila.
Por sua vez, o Instituto Butantan também destaca a importância de manter o uso de máscaras sempre e evitar aglomerações, especialmente em lugares fechados. “É importante que todos usem máscara porque muitas pessoas são infectadas pelo novo coronavírus e não apresentam nenhum sintoma, mas transmitem o vírus para outras. Até mesmo quem já foi vacinado precisa usar: as vacinas protegem contra os sintomas, mas não contra a infecção. Ou seja, uma pessoa imunizada ainda pode pegar a covid-19 e transmiti-la para seus amigos e familiares, mesmo sem apresentar febre, dificuldades respiratórias, mal-estar, dor de cabeça e os demais sintomas da doença”. (Fonte: RBA)