Construção civil aquece mercado de trabalho e gera 317 mil postos em um ano
A despeito da covid-19, setor teve uma das maiores evoluções na criação de empregos formais neste ano, segundo dados do governo federal. Resultado anima empresários, que querem intensificar contratações (Por Fernanda Strickland* e Gabriela Bernardes*)
terça-feira julho 27, 2021
Apesar de a taxa de desemprego no país estar em níveis recordes por conta da pandemia da covid-19, a construção civil vem remando contra a maré. Mesmo em meio à crise sanitária, esse segmento gerou, entre junho de 2020 e maio de 2021, 317.159 novas vagas de emprego, um crescimento de cerca de 15% em relação ao mesmo período anterior, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apresentado pela Secretaria de Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia.
Essa variação foi a maior dentre as outras categorias de atividade econômica que são monitoradas pelo Caged (agropecuária, indústria, comércio e serviços). Além disso, de janeiro a maio deste ano, o setor foi responsável por empregar 156.693 trabalhadores com carteira assinada, quase 7% a mais do que nos mesmos meses de 2020 — a segunda maior alta para o intervalo observada pelo Ministério da Economia, atrás apenas da agropecuária.
O empresário Marlus Franco, 44 anos, sócio de uma empresa de engenharia, testemunhou essa evolução do segmento ao longo dos últimos meses. Desde o início da pandemia, ele já contratou mais de 700 profissionais, desde auxiliares de pedreiro a engenheiros. Segundo ele, o segredo para não ficar estagnado em meio à crise foi não perder o planejamento e transmitir confiança para os clientes.
“Quando foi decretada a pandemia, estávamos com dois contratos fechados para a construção de dois shoppings, e como os investidores decidiram tocar o projeto mesmo assim, outros não quiseram ficar para trás e nos procuraram para saber o que estava sendo feito. Assim, fomos incentivando e motivando os clientes a tocarem os seus projetos, e as coisas foram acontecendo”, comenta.
“Sempre em tempos de crise, surgem oportunidades para quem está preparado e nós já vínhamos em uma crescente. Então, soubemos aproveitar a onda. Juntando isso com uma grande oferta de mão de obra, soubemos selecionar os melhores para cada função. Neste ano, até julho, já fechamos o dobro de contratos que tivemos em 2020. O mercado está muito aquecido, e acreditamos que teremos bons resultados até dezembro”, completa.
Um dos contratados nesse período foi o engenheiro civil Josué Jorge Galdino, 24. “É uma grata motivação enfrentar desafios novos a cada dia. Ao decorrer do tempo, com aquisição de experiência de mercado e mais contato na área, vejo hoje um leque de possibilidades nesta área. Oportunidades que antes eram raras tornaram-se mais comuns. E na área da construção civil, que é muito competitiva, ainda mais em tempos de crise, as oportunidades estão aparecendo.”
Condicionantes
O economista Benito Salomão, mestre em Avaliação de Políticas Públicas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), diz que os bons resultados obtidos pela construção civil nos últimos meses são reflexo, em parte, da redução da taxa básica de juros, a Selic, que aconteceu no ano passado, quando ela chegou à marca de 2% ao ano.
“Isso estimulou o crédito, e as pessoas se sentiram encorajadas a tomar crédito para fazer reformas ou construir, o que refletiu na alta da demanda por emprego”, explica. “E como os brasileiros tiveram de ficar mais tempo em casa, eles sentiram a necessidade de transformar as residências em lugares mais confortáveis. Isso também estimulou o setor da construção civil”, acrescenta.
Para ele, o fato de algumas ocupações na construção civil não exigirem formação superior também contribuiu para que o setor gerasse mais vagas. O economista ainda diz que o setor teve sucesso por ter aberto as portas a profissionais que saíram das suas ocupações principais e não conseguiram retornar a esses mercados. “Os trabalhadores sem maiores qualificações não têm muita opção sobre a atividade que vão exercer e acabam assumindo a oportunidade que aparece.”
Confiança em alta
A geração de mais postos de trabalho na construção civil aumentou a percepção de melhora no ambiente de negócios corrente e futuro do setor, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV)
MêsÍndice de confiançaÍndice de expectativas
Janeiro92,594,6
Fevereiro92,094,1
Março88,890,0
Abril85,086,0
Maio87,289,0
Junho92,495,4
Fonte: FGV
Materiais ficam 2,3% mais caros
O setor de varejo de material de construção foi um dos que menos sentiram os impactos da crise gerada pela pandemia. De acordo com a Federação Brasileira de Redes Associativistas de Materiais de Construção (Febramat), no primeiro trimestre deste ano, as lojas do segmento apresentaram uma evolução de 30,5% no faturamento na comparação com o mesmo intervalo de 2020.
“Mesmo depois de um início de pandemia assustador, onde as lojas tiveram que fechar as portas, com a abertura gradual o que se observou foi uma rápida retomada nas vendas, apresentando um crescimento maior do que nos últimos anos, em especial pelo fato de as pessoas terem ficado em casa e olharem mais para as necessidades de reformas”, analisa o presidente da Febramat, Paulo Roberto dos Santos Machado.
Em contrapartida, os materiais de construção estão mais caros. Em junho, o Índice Nacional de Custo da Construção – M (INCC-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 2,3%. No mês anterior, o indicador tinha avançado 1,8%. Com esse resultado, o índice acumula alta de 9,38% no ano e de 16,88% em 12 meses.
De acordo com a FGV, a taxa correspondente a Materiais e Equipamentos subiu 1,65% em junho, contra 2,93% no mês anterior. Todos os subgrupos componentes apresentaram decréscimo em suas taxas de variação, destacando-se materiais para estrutura, cuja taxa passou de 2,91% para 2,09%.
Segundo a instituição, a variação relativa a Serviços passou de 0,95% em maio para 1,19% em junho. Neste grupo, vale destacar o avanço da taxa do item projetos, que passou de 1,95% para 2,29%.A taxa de variação referente ao índice da Mão de Obra, por sua vez, passou de 0,99% em maio para 2,98% em junho. (Fonte: Correio Brazilinse)
*Estagiárias sob a supervisão de Augusto Fernandes