NOTA DE R$ 200 PODE ACABAR? VEJA O QUE ACONTECEU COM A CÉDULA LANÇADA NA PANDEMIA

Cédula completa três anos de lançamento em setembro, mas tem número de cédulas em circulação menor até mesmo que a de R$ 1 (Por Juliana Steil) - foto Reuters


segunda-feira julho 3, 2023

Prestes a completar três anos de vida, a nota de R$ 200 segue sendo a de menor circulação no Brasil, perdendo até mesmo para a nota de R$ 1 — que deixou de ser emitida há 18 anos. A situação pode piorar ainda mais, já que um entrave na Justiça tenta definir o futuro da cédula que carrega a imagem do lobo-guará.

A cédula mais difícil de encontrar do sistema financeiro brasileiro é alvo de uma ação civil pública desde 2020, quando foi lançada. Com o mesmo tamanho físico da nota de R$ 20, a nota foi criticada por associações que defendem os direitos de pessoas com deficiências visuais. Isso porque os variados tamanhos para cada valor permite, a quem não enxerga, diferenciar as cédulas.

Foi isso o que motivou a Organização Nacional de Cegos do Brasil a acionar a Defensoria Pública da União, que moveu o processo contra o Banco Central. Um pedido de recall das cédulas chegou a ser feito, mas não foi para frente. O imbróglio se arrasta desde então, ainda sem uma definição.

A produção com tamanho que fugiu ao padrão adotado — cédulas maiores para valores mais altos — aconteceu porque, na época, o BC não queria ocupar a linha de produção e não ter que interromper a sua fabricação para dar lugar à nova cédula.

Além disso, o método de confecção das notas de R$ 100 não tinha espaço para a inclusão dos itens de segurança do papel de R$ 200. A solução foi usar as máquinas que produziam a nota de R$ 20.

O BC argumenta que deficientes visuais podem identificar e diferenciar a nova cédula por meio de uma marca tátil, um item de alto relevo que todas as notas de real possuem. No caso dos R$ 200, a marca tátil é representada por três linhas inclinadas, enquanto a de R$ 20 possui duas, tudo em alto relevo.

O problema apontado pela Defensoria Pública é que, com o tempo, o alto relevo tende a se desgastar, deixando a cédula “idêntica” à de R$ 20 para aqueles que têm deficiência visual severa. O objetivo da ação é que as notas já colocadas em circulação sejam recolhidas e novas sejam emitidas, desta vez no tamanho adequado, permitindo uma diferenciação mais fácil.

O processo está na fase de produção de provas, segundo o defensor regional de Direitos Humanos em São Paulo, João Paulo Dorini, responsável pela ação. Apesar dos anos que já se passaram sem resolução, Dorini diz que seguirá tentando promover a mudança.

“Nossa ação continua sendo válida porque, em algum momento, esse problema terá que ser enfrentado. Essa cédula não usa o mesmo padrão de acessibilidade das outras notas do Real. O que a gente não pode é regredir com uma coisa que já estava consolidada, garantindo acessibilidade para essa parcela importante da população. São mais de 6 milhões de pessoas só com deficiência visual severa”, diz Dorini.

Carreira curta
Apenas 28,4% das cédulas de R$ 200 produzidas foram colocadas em circulação pelo Banco Central. Esse número corresponde a 128,1 milhões de cédulas, com valor de R$ 25,6 bilhões. O restante está guardado com o Banco Central.

Todas elas foram emitidas e entregues ao BC ainda em 2020, na pandemia, quando foram lançadas oficialmente. De lá pra cá, nenhuma nova nota de R$ 200 foi impressa.

Na época de seu anúncio, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a cédula foi criada para ter uma “carreira curta”.

Os R$ 25,6 bilhões em cédulas de R$ 200 correspondem a 8% de todo o valor em espécie que circula no país, de R$ 323,8 bilhões, atrás somente das cédulas de R$ 50 e R$ 10.

Apesar de pouco expressivo, o número referente à participação da cédula na economia brasileira é satisfatório para o Banco Central. Ao Terra, a autarquia afirmou que “o ritmo de utilização da cédula vem evoluindo em linha com o esperado, e deverá seguir em emissão ao longo dos próximos exercícios”.

Alvo de falsificação
Mesmo com a pouca circulação, as cédulas de R$ 200 estão entre as preferidas dos falsificadores. Os dados mais recentes do Banco Central mostram que, até abril deste ano, foram apreendidas 13.609 cédulas falsificadas de R$ 200, que somaram R$ 2,721 milhões.

Atualmente, a cédula do lobo-guará só perde para a nota de R$ 100, que teve 21 mil unidades falsificadas apreendidas no mesmo período. (Fonte: Terra)