Variante Ômicron acende alerta vermelho no mundo

Ainda faltam estudos sobre a cepa Omicron do coronavírus. OMS classifica como “variante de preocupação” em tempo recorde e sinais são preocupantes. Pesquisadores temem que a variante Omicron possa ser a mutação mais preocupante até agora, já que possui o maior número de mutações detectadas, mesmo em poucos dias (Por Gabriel Valery, da RBA)


terça-feira novembro 30, 2021

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou comunicado elevando a nova cepa (B.1.1.529) do coronavírus notificada na África do Sul para “variante de preocupação”. A variante batizada de Ômicron é apenas a quinta a receber o alerta, e também foi a que recebeu a classificação de forma mais rápida. Além disso, pesquisadores temem que ela possa ser a mutação mais preocupante até agora, já que possui o maior número de mutações detectadas, mesmo em poucos dias.

Muitas destas mutações afetam a proteína Spike do vírus, um dos componente mais relevantes em relação ao contágio e no qual, por isso mesmo atuam boa parte dos mecanismos das vacinas existentes. Ainda não existem estudos para saber se a variante Ômicron é de fato mais perigosa ou transmissível. Entretanto, o cenário é alarmante, porque em apenas 10 dias a Ômicron alcançou prevalência na África do Sul, algo que a variante Delta demorou 100 dias.

A descoberta da cepa derrubou as Bolsas de Valores de todo o mundo hoje (26). Além disso, muitos países já voltam a fechar fronteiras, especialmente voos para aqueles que já notificaram a variante.

Variante sem controle
Além da “quarta onda” de impacto que varre a Europa, esta nova cepa acende mais alertas para o Brasil. Entretanto, desde o início da pandemia, a gestão da crise foi ignorada no país. O governo federal, de Jair Bolsonaro, disse que seria uma “gripezinha”, coisa de “maricas”, além de disseminar mentiras sobre segurança e eficácia de máscaras e vacinas. Agora, mesmo governos estaduais que outrora adotaram medidas mínimas, como obrigatoriedade do uso de máscaras, passam a suspende-las.
 
“A variante Ômicron (B.1.1.529) foi detectada exatamente quando o uso de máscaras está sendo abandonado no Brasil. Com controle pífio de fronteiras, é preciso muita fé para achar não teremos problemas”, avalia o virologista Anderson Brito. “O Brasil está de fronteiras e bocas abertas para novas variantes”, completou. A professora de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP) Lorena Barberia engrossa a fala de Brito. “Estamos jogando muitas vidas no meio de uma estratégia muito arriscada, onde ganhos de tirar a máscara são infinitamente inferiores aos custos que vai levar essa medida.”

Estratégia conhecida
Além do uso de máscaras, especialistas defendem que o Brasil deveria olhar para fora para prever cenários. Países que já recebem impacto da quarta onda, como França, Alemanha, Portugal e Espanha estão endurecendo medidas de isolamento, estimulando trabalho remoto, uso de máscaras e cogita-se, inclusive, vacinação obrigatória. Até então, as vacinas seguem como melhor método coletivo para superação da pandemia, e devem ser aplicadas em conjunto com medidas não-farmacológicas para suprimir o vírus e evitar variantes com poder de escape vacinal.

O físico e membro do Observatório Covid-19 Br Vitor Mori insiste que as medidas são conhecidas e devem ser continuadas. “Há sinais de que essa nova variante merece atenção, sim. Porém ainda há muitas incertezas e dúvidas também. Sem pânico, vamos continuar fazendo o que ajuda a reduzir a transmissão do vírus e que está ao nosso alcance no dia a dia.

Balanço
Enquanto isso, o Brasil segue como o país com mais mortes pelo vírus no mundo em 2021. Desde o início da pandemia, em março de 2020, foram 614 mil mortes no país. Sem contar com ampla subnotificação, provocada pela falta de testagem em massa e rastreio de contágios, são mais de 22 milhões de infectados. Nas últimas 24 horas, foram registradas 315 vítimas e 12.392 contágios. As pessoas com esquema vacinal completo são cerca de 63%, enquanto 80% tomaram apenas a primeira, e mais de 21 milhões não regressaram para a segunda. (Fonte: RBA)

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass)