Guedes confirma Auxilio Brasil temporário de R$ 400, mas não explica fonte

Novo valor do Auxílio Brasil foi anunciado nesta quarta, mas fuga ao teto causou divergências no governo. Guedes diz que opções são rever regra ou criar 'licença para gastar' com programa. (Por Jéssica Sant'Ana, g1)


quinta-feira outubro 21, 2021

O ministro da Economia, Paulo Guedes, confirmou nesta quarta-feira (20) que o governo pagará R$ 400 de Auxílio Brasil até dezembro de 2022 – mas disse que ainda estuda a forma de alterar o teto de gastos para pagar o benefício.

“Estamos passando de 14 milhões para 17 milhões de famílias e ao mesmo tempo indo para R$ 400. Nenhuma família vai receber menos que os R$ 400”, afirmou Guedes durante evento promovido pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).

“É um enorme esforço fiscal, e o que nós temos discutido aqui é como é que nós podemos fazer isso dentro de toda a estrutura fiscal que nós temos hoje”, ponderou.

O programa, que vai substituir o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial, começa a ser pago em novembro, conforme já tinha anunciado mais cedo o ministro da Cidadania, João Roma.

Teto de gastos
Segundo Guedes, há duas alternativas em estudo para viabilizar o pagamento do benefício:

rever o teto de gastos, acabando com o descasamento existente entre as correções do teto e das despesas obrigatórias. Com isso, o governo poderia abrir espaço fiscal no Orçamento de 2022.

excepcionalizar a parcela do auxílio que não cabe no teto, ou seja, deixar esse montante fora da regra fiscal. Essa licença para “furar” o teto seria limitada a pouco mais de R$ 30 bilhões em 2022, segundo o ministro.

“Os salários seguem um índice, e o teto de gastos segue outro índice. Estávamos estudando se faríamos uma sincronização dessas despesas – isso seria uma antecipação da revisão do teto de gastos, que está para 2026. Ou se, ao contrário, mantém [o teto], mas por outro lado pede um ‘waiver’, uma licença para gastar com essa camada temporária de proteção”, disse Guedes.

“Como queremos aumentar essa camada de proteção, pediríamos que isso viesse um pouco como ‘waiver’ para atenuar impacto socioeconômico da pandemia. Estamos ainda finalizando, vendo se conseguimos compatibilizar isso, mas o importante é que o déficit continua caindo”, completou.

O ministro ressaltou, ainda, que a decisão sobre como alterar o teto será política.

“Qualquer que seja a solução, é uma solução política. Do ponto de vista técnico, nós oferecemos a nossa contribuição que é Precatórios mais IR, que é o bolsa de R$ 300, dentro do teto, dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa é a resposta técnica ao desafio, mas quem tem voto é a política. E não vai ser nem a primeira nem a última vez que a Economia é só um olhar técnico dentro de um cenário um pouco mais amplo”, disse Paulo Guedes.

Governo ‘popular’
Durante a explicação, Guedes afirmou que o governo Jair Bolsonaro quer ser “reformista e popular”, mas rejeitou a ideia de que ampliar benefícios sociais à custa do teto de gastos seja uma ação populista.

“É natural também que tenha a turma com olhar econômico, mais rígido, mais duro, de responsabilidade fiscal, de proteção da gerações futuras. Nós precisamos desse olhar e desse equilíbrio”, disse.

“Nós somos um governo reformista, queremos fazer as reformas, reforma do Imposto de Renda, a reforma tributária mais ampla, a reforma administrativa, as reformas de privatizações como Correios e Eletrobrás. Nós queremos ser um governo reformista e popular, e não um governo populista. Os governos populistas estão desgraçando seus povos na América Latina. Nós somos um governo que tem o objetivo de ser reformista e popular, e não um governo populista”

Em outra transmissão ao vivo na noite desta quarta-feira (20), Guedes descreveu como “natural” a motivação do presidente Jair Bolsonaro e da ala política do governo em pressionar a Economia pelo aumento do valor do benefício nas semanas anteriores ao último pagamento do Auxílio Emergencial.

“Como não foi aprovada no Senado [a reforma do IR], é natural que o governo fique impaciente”, afirmou.

“Agora, a forma de fazer isso é a política que decide. A economia já deu a sua sugestão. O presidente pediu um pouco mais, nós temos que ajudar a viabilizar isso dentro do arcabouço fiscal. Ah… [suspira], a forma de viabilizar é com auxílio temporário”, concluiu.

Reforma do IR
Ainda no evento, Guedes lamentou o fato de o Senado ainda não ter votado a reforma do Imposto de Renda. O texto cria uma tributação sobre dividendos, e o governo pretendia usar essa arrecadação para financiar o novo programa social.

“Não tem fonte para que seja permanente [os R$ 400], então uma parte é permanente [reajuste de 20% em relação aos valores pagos atualmente no Bolsa Família], outra parte é transitória [o que restar para chegar nos R$ 400]. Estávamos contando com o Imposto de Renda, não progrediu no Senado, ficamos sem fonte”, afirmou o ministro.

Na transmissão ao vivo realizada na noite desta quarta (20), o ministro defendeu que o caráter transitório do aumento permitiu que o governo elevasse o valor do benefício. Isto é, sem a reforma do IR, e considerando que a arrecadação com tributos federais ficou acima do previsto, Guedes avaliou que faz sentido para o governo promover uma elevação temporária.

“Sendo transitória, ou seja, dispensando essa fonte [a reforma do IR], podemos contar com o próprio aumento de arrecadação, porque não é um programa permanente. Então é natural que, em vez de R$ 300, o governo fale: ‘bom, então vou gastar R$ 400, vou gastar mais um pouco, já que a arrecadação subiu”, defendeu.

O ministro afirmou também que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), prometeu ao governo que a PEC dos Precatórios será prioridade na Casa após o encerramento da CPI da pandemia.

“Temos já o compromisso do presidente do Senado de que ele vai mergulhar nisso e que em 10 dias ele deve… Estão agora finalizando a CPI do Covid, e dispara imediatamente como prioridade a PEC dos Precatórios. E aí, pronto, tiramos isso da frente”, disse.

Inflação
O ministro disse que a alta da inflação justifica um auxílio de R$ 400, ao invés dos R$ 300 pensados anteriormente.

“Agora, percebendo esse impacto que está acontecendo no mundo inteiro [inflação], comida e energia subindo no mundo inteiro, estamos lançando então essa fonte transitória até o final do ano que vem para que nos ajude então para que todas as famílias tenham a proteção dos 400 reais”, relatou Guedes.

O ministro negou que a medida seja populista. “Somos um governo reformista e popular, e não um governo populista.”

Por fim, ressaltou que o importante é que o mais frágeis estarão protegidos e que a trajetória de consolidação fiscal continua, com o governo seguindo lutando pelas reformas estruturantes.

O ministro disse ainda que a alta da inflação, por ser transitória, justifica um auxílio de R$ 400, ao invés dos R$ 300 pensados anteriormente.

“Já que ele [o aumento] é transitório, ele tem que abordar esse problema transitório também. Temporariamente o preço de comida e energia subiram muito como efeito colateral dessa crise pandêmica. Então botamos R$ 400”, afirmou Guedes. (Fonte: G1)