Metade das empresas só vai voltar aos escritórios em 2022, aponta pesquisa da KPMG
Segundo a consultoria, com a expectativa de que até novembro grande parte da população esteja imunizada contra a covid, empresas e funcionários devem se sentir mais confortáveis para retomar o trabalho presencial (Por Vinicius Neder)
quinta-feira setembro 23, 2021
RIO – Mesmo com o avanço da vacinação contra covid-19, as grandes empresas chegaram a meados do ano adiando, novamente, os planos de retorno aos escritórios. Metade das companhias já decidiu deixar o trabalho presencial para 2022, conforme pesquisa da consultoria KPMG, feita em julho e agosto, e obtida com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.
Na edição anterior do levantamento, referente a março e abril, um terço (33,8%) dos entrevistados informou que a volta ficaria mesmo para o próximo ano – agora, 48% citaram essa opção, enquanto 52% disseram que voltam ainda este ano.
Os dados corroboram que o retorno ao trabalho presencial é gradual. A diferença é que, agora, o adiamento parece vir com uma convicção de que 2022 será mesmo o ano da volta – ainda que num modelo “híbrido”, que combine trabalho presencial em alguns dias da semana com remoto em outros, sem perder produtividade. Em março, 74% dos entrevistados disseram que adiaram planos de volta por causa do surgimento de novas cepas de coranavírus, como a Delta, surgida na Índia. Na edição de julho, esse número caiu para 51%.
Para o sócio de clientes e mercados da KPMG no Brasil e América do Sul, Jean Paraskevopoulos, o recuo na preocupação com novas cepas sugere uma “acomodação” nas preocupações com a pandemia. À medida que a vacinação avança e novos estudos sugerem redução na letalidade da covid-19, vai se consolidando uma percepção de que todos os países conviverão com a doença, ainda que com medidas de prevenção.
“O que vejo e escuto dos clientes é que, a partir de outubro ou novembro, parcela significativa da população estará imunizada com a segunda dose (das vacinas). Aí, em dezembro ou janeiro, empresas e pessoas estarão mais confortáveis para uma volta ao trabalho presencial”, disse Paraskevopoulos.
A expectativa de retorno aos escritórios vem sendo adiada sucessivamente desde o ano passado, o que pode ser observado na comparação das diferentes edições da pesquisa da KPMG. A consultoria vem realizando o levantamento desde o início da pandemia, em 2020 – a sexta edição, a mais recente, ouviu 287 executivos de empresas localizadas em todo o País.
Na edição inaugural, feita no bimestre abril-maio de 2020, 33% dos entrevistados disseram esperar a volta para “o próximo mês”, enquanto 35% apostavam numa volta “até dezembro” de 2020. Só que, ainda no fim do ano passado, companhias como Oi e Itaú Unibanco já haviam anunciado que deixariam a volta aos escritórios para este ano. Por outro lado, ainda no fim de 2020, 36% dos entrevistados informaram que suas companhias já tinham terminado o ano passado de volta aos escritórios.
A quinta edição da pesquisa da KPMG, referente a março e abril passados, foi a primeira a trazer respostas apontando 2022 como data de volta. Agora, a sexta edição reforçou o próximo ano como a data de retorno.
Na visão de Paraskevopoulos, as sucessivas postergações não se devem apenas à demora no controle da pandemia. Muitas empresas aproveitaram o trabalho remoto para ter ganhos de produtividade, com redução de custos com viagens e deslocamentos. Agora, estão estudando com cuidado como adotar um sistema “híbrido”.
“Tem um processo de aprendizado, de como equilibrar o retorno a essas questões de produtividade e ganho de eficiência econômica”, afirmou o sócio da KPMG, destacando que a sexta edição do levantamento reafirmou a opção das empresas por algum esquema “híbrido” – 29% dos entrevistados em julho e agosto disseram que pretendem manter o “home office” duas vezes por semana, enquanto outros 29% afirmaram que pretendem adotar o trabalho remoto três vezes por semana.
A pesquisa da KPMG sobre impactos da covid-19 também perguntou a 38 altos executivos sobre o desempenho dos negócios. Nesse ponto, houve aumento do otimismo, na visão da consultoria: 100% dos entrevistados em julho disseram que estão mais otimistas com os negócios após a vacinação, ante 85% na edição de março. Por outro lado, em março, 47% disseram que a vacinação mudou planos de negócios, ainda que sem mexer em prazos. Em julho, 50% disseram que a vacinação não mudou planos de negócios, nem prazos.
Para Paraskevopoulos, é sinal de que o maior otimismo vale apenas para que os negócios voltem ao “normal” de antes da pandemia, sem muitas perspectivas de crescimento sustentado para além disso. “Só o efeito de o consumo voltar ao normal já representa um ganho importante. O otimismo está relacionado a isso”, disse o sócio da KPMG. (Fonte: Estadão)