Salários encolhem com reajustes baixos e inflação disparada
Em abril, pelo quarto mês seguido, mais da metade das negociações fechadas com empresas resultaram em reajustes menores do que a inflação acumulada
sexta-feira junho 11, 2021
Os salários dos trabalhadores brasileiros estão encolhendo neste ano.
Em abril, pelo quarto mês seguido, mais da metade das negociações fechadas com empresas resultaram em reajustes menores do que a inflação acumulada em um ano, segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), e do Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Ainda que a lei proíba a redução das remunerações, sem o aumento real –quando o ajuste supera a inflação–, o resultado final para a vida prática é de um salário com o qual se compra menos.
Nos acordos e convenções de categorias com data-base em abril, o reajuste médio ficou em 5,6%. O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulado em 12 meses até março, usado como referência para essas negociações, estava em 6,9%.
De janeiro a abril, a variação real média ficou negativa em 0,57%, segundo o Dieese. A análise feita pelo departamento de estudos socioeconômicos aponta ainda que metade dos reajustes resultou em perdas iguais ou superiores a 0,18% para os trabalhadores.
Somente 12,3% das negociações fechadas no período garantiram reajustes acima da inflação. Quase seis em dez (58,7%) terminaram com índices inferiores ao da inflação, ou seja, com perda no poder de compra.
Na divisão por segmento econômico, o setor de serviços foi aquele com o maior número de acordos com reajuste abaixo do INPC. No primeiro quadrimestre de 2020, 71,7% das negociações não chegaram a repor as perdas da inflação. Na indústria, o percentual foi de 46,8%, e de 35,9% no comércio, segundo o Dieese.
A escalada da inflação deve agravar ainda mais as condições para as negociações e coincide com um período de concentração de datas-base, que é o mês de maio, quando, no dia 1º, se comemora o Dia do Trabalhador.
As categorias que estão em negociação precisarão de reajustes de pelo menos 7,59% para compensar o INPC acumulado em 12 meses até abril.
Em maio, o índice chegou a 8,9% —o índice apura a variação de preços e os pesos das despesas para famílias com renda entre um e cinco salários mínimos, e é o mais usado nas negociações de reajuste.
A inflação oficial, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), ficou em 8,06% no mesmo período.
Na avaliação do economista André Braz, coordenador de índices de preços do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a inflação começará a recuar no segundo semestre, mas ainda ficará distante do teto da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional, de 5,25%.
Para o coordenador do Salariômetro, Hélio Zylberstajn, as negociações de reajustes seguirão complicadas neste ano. Ele destaca, porém, que os acordos e convenções vêm discutindo mais direitos. Temas como a regulamentação do trabalho em casa também começam a aparecer com mais frequência.
A análise feita pelo Salariômetro, da Fipe, a ponta para um aumento, nos próximos meses, do número de acordos e convenções com cláusulas de manutenção de emprego para acolher a renovação do programa que permite a suspensão de contratos ou a redução de salário e jornada.
Criado no ano passado como política de manutenção de empregos formais, o programa foi reeditado neste ano por meio da Medida Provisória 1.045. Por até quatro meses, o trabalhador recebe um complemento salarial chamado BEm (benefício emergencial), pago pelo governo federal e calculado com base no seguro-desemprego.
As informações são da FolhaPress