Classes alta e média pouparam porque não podiam ir a bar, restaurante ou viajar
A redução de gastos com lazer e turismo foi a principal contribuição para a formação de poupança, segundo pesquisa Datafolha
segunda-feira maio 31, 2021
Mais da metade dos brasileiros que conseguiu poupar dinheiro em 2020, o fez porque ficou mais difícil viajar, ir a festas, bares e restaurantes.
A redução de gastos com lazer e turismo foi a principal contribuição para a formação de poupança, segundo pesquisa Datafolha para a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
A entidade calcula que 20 milhões de pessoas tenham economizado com essas despesas no ano passado. Em 2019, no pré-pandemia, a redução de gastos com viagens, bares, restaurantes e festas tinha sido apontada como a fonte de economia por 34% dos poupadores, o equivalente a cerca de 12 milhões de pessoas.
Marcelo Billi, superintendente de comunicação, certificação e educação de investidores da Anbima, diz que a formação de poupança involuntária –ou forçada– era esperada diante das restrições à circulação, que levou à queda no consumo.
A pesquisa Datafolha para a Anbima foi realizada com 3.408 pessoas economicamente ativas, das classes A, B e C. As entrevistas foram realizadas entre os dias 17 de novembro e 17 de dezembro. A poupança involuntária, diz Marcelo Billi, aparece mais nas classes A e B.
Na camada de menor renda, isso também foi percebido, mas, segundo ele, de modo menos homogêneo. Na classe C, o ano de 2020 teve mais empréstimos que poupança.
Entre os que conseguiram guardar dinheiro, a redução forçada de gastos foi o principal indutor de poupança.
Em 2020, segundo a Anbima, 36% dos brasileiros conseguiram economizar. No ano anterior, esse percentual era 38%. “A proporção de pessoas que conseguiu economizar não cai tanto em relação a 2019”, diz Billi.
“E é estranho, porque a gente sabe que as pessoas tiveram redução de renda, perderam emprego. “[A poupança] veio dessa impossibilidade de as pessoas gastarem. [A economia] não vem como uma estratégia.”
Os dados da Anbima apontam que 55% dos entrevistados tiveram queda na renda, 10% dos quais tiveram perda total nos rendimentos.
As demais condutas que os cidadãos adotavam para garantir uma reserva financeira acabaram perdendo espaço no ano passado. A segunda maior fonte de economia, diz a pesquisa, foi o corte de gastos com compras consideradas desnecessárias, apontado por 24% dos poupadores. Em 2019, o motivo era aposentado por 47% dos ouvidos.
O aumento da economia por meio da impossibilidade de viajar e sair, fez cair também o percentual de poupadores que usaram o controle de despesas e a separação de parte do salário para garantir a reserva financeira. Esses dois motivos foram apontados por 19% e 11% dos poupadores, respectivamente. Eles respondiam por 34% e 35% no ano anterior.
Segundo a pesquisa, 7% dos brasileiros que fizeram poupança em 2020 disseram ter economizado por “não ter onde gastar”. São cerca de 2,5 milhões de pessoas com gastos reduzidos devido aos impactos da crise sanitária iniciada em março do ano passado.
“A impossibilidade de gastar fez manter a proporção de poupadores no nível similar a 2018”, diz Billi. Há dois anos, 33% dos brasileiros diziam ter conseguido economizar.
Essa poupança involuntária fez a caderneta bater sucessivos recordes de captação em 2020.
Dados do Banco Central mostram que, de janeiro a dezembro, os depósitos superaram os saques em R$ 166,3 bilhões, o maior valor registrado pela autoridade monetária desde o início da série histórica, em janeiro de 1995. Antes, o recorde havia sido registrado em 2013, quando a diferença foi de R$ 71 bilhões.
Além das medidas de controle da pandemia, que incluíram o fechamento de comércios e serviços para reduzir a circulação de pessoas, o resultado da poupança é atribuído também ao pagamento de benefícios pelo governo.
No ano passado, além do auxílio emergencial, pago a trabalhadores informais, beneficiários do Bolsa Família e desempregos, o governo federal também liberou o saque de até R$ 1.045 do FGTS (Fundo de Garantir do Tempo de Serviço).
Para o Banco Central, os brasileiros fizeram também uma poupança precaucional em 2020, a partir do adiamento de compras, diante das incertezas quanto à duração da pandemia e à velocidade de recuperação da economia. Em 2020, os brasileiros depositaram R$ 3,1 trilhões na caderneta. Os saques somaram R$ 2,9 trilhões.
Neste ano, a poupança acumulou três meses de resultados negativos, ou seja, com mais saques do que depósitos. Em abril, porém, a captação líquida voltou a ficar positiva e os depósitos superaram os saques em R$ 3,84 bilhões.
Para Marcelo Billi, da Anbima, é natural que parte da poupança involuntária formada em 2020 vire consumo neste ano. Porém, ele aposta que o período de restrições deixará um aprendizado quanto à importância de se manter alguma conduta de planejamento financeiro.
“As pessoas vão voltar a gastar, mas tem quem vai economizar pela memória do período difícil. É possível que o desejo por planejamento financeiro fique maior”, afirma.
As informações são da FolhaPress
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