Aliados de Bolsonaro reforçam polarização e atacam Lula após atos contra presidente
Lula não foi aos protestos de sábado e manteve silêncio, mas em diversas cidades houve declarações de apoio ao petista
segunda-feira maio 31, 2021
Thiago Resende e Mateus Vargas
Brasília, DF
Aliados de Jair Bolsonaro reagiram às manifestações de sábado (29) contra o presidente de forma alinhada: inflaram o discurso de polarização e miraram ataques a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ex-presidente, segundo a última pesquisa Datafolha, aparece com vantagem para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022.
Lula não foi aos protestos de sábado e manteve silêncio, mas em diversas cidades houve declarações de apoio ao petista. Ele readquiriu o direito de disputar a eleição após o STF (Supremo Tribunal Federal) anular condenações da Lava Jato.
Os atos contra Bolsonaro reuniram milhares de manifestantes em várias cidades do país, incluindo todas as 27 capitais brasileiras. Liderados por centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda, eles foram alvo de críticas por acontecerem presencialmente em meio à pandemia da Covid-19, que já deixou mais de 450 mil mortos no país.
De olho nas urnas, o PT evita atropelar a construção da candidatura e busca não associar a mobilização à força política de Lula. Diante de um adversário com elevada rejeição e um cenário difícil inclusive na economia, a estratégia dos petistas é deixar que Bolsonaro se desgaste. A gestão da pandemia da Covid já é alvo de uma CPI no Senado.
Embora tenha rachado na preparação de sábado devido ao dilema de provocar aglomerações durante a pandemia, a esquerda não descarta a convocação de novos protestos contra Bolsonaro, com foco nas críticas ao combate da pandemia e a favor do impeachment.
O final de semana fez emergir entre os políticos a avaliação de que a eleição presidencial de 2022 foi antecipada. O mesmo diagnóstico é traçado por bolsonaristas e políticos de esquerda.
PT e PDT foram estimulados a traçar planos. Bolsonaristas tentaram minimizar a mobilização e afirmam que, agora, o presidente da República tem um salvo-conduto para ir a atos nas ruas.
Ao contrário das agitadas agendas dos últimos finais de semana, Bolsonaro se encastelou no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, em Brasília.
No sábado, dia dos protestos, fez uma publicação em rede social segurando uma camiseta com a mensagem “imorrível, imbroxável, incomível” —mesmos termos usados recentemente por ele quando atribuiu a Deus a exclusividade de poder tirá-lo do cargo.
Lula também não se manifestou até a publicação deste texto. Na sexta (28), o petista atacou Bolsonaro, que, segundo ele, nunca trabalhou na vida. “Acha que eu tenho medo dele?! Eu nasci na rua, minha vida política é na rua”, escreveu o ex-presidente em rede social.
A estratégia do PT é deixar Lula mais afastado dos atos nas ruas para fazer um contraponto a Bolsonaro, que promove frequentes aglomerações durante a pandemia.
Bolsonaristas aproveitaram o ambiente de apoio ao petista nas manifestações para reforçar a percepção de polarização. A aposta é reeditar o antipetismo presente na campanha de 2018.
Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) afirmou que as manifestações contra Bolsonaro colocaram a eleição já em pauta.
“A polarização está consolidada. A terceira via vai se dividir em muitas candidaturas. Como se diluem as candidaturas, a tendência é Lula e Bolsonaro no segundo turno”, disse Barros à Folha.
Para a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que é próxima de Bolsonaro, os atos pelo país tiveram baixa adesão, mas afirmou que a exceção foi São Paulo, cuja manifestação a impressionou.
“Mas precisará muito mais do que isso para o impeachment avançar”, disse Zambelli. Ela disse que o processo depende de crime de responsabilidade e vontade política, e não apenas de atos nas ruas.
Em ataque a Lula, a deputada afirmou que o apoio demonstrado ao petista durante as manifestações é uma “tentativa de levantar um defunto”.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, também usou a estratégia de levar Lula ao centro da discussão.
“A maior propaganda gratuita que o Bolsonaro pode ter é o PT colocar essas bizarrices nas ruas novamente. O brasileiro precisa rememorar essa turma que estava escondida dentro de casa e só destilando ódio pelas redes sociais”, escreveu o ministro em uma rede social.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, saiu em defesa do governo nas redes sociais. “Ontem mais uma máscara caiu”, escreveu. Segundo ele, a oposição só criticava “aqueles que vão para as ruas” por não conseguir mobilizar atos volumosos.
Os organizadores dizem que houve protestos no sábado em ao menos 213 cidades do Brasil e 14 do exterior, com cerca de 420 mil pessoas.
Apesar de ampla adesão ao uso de máscaras, houve aglomerações que desrespeitam as recomendações sanitárias para evitar a transmissão da Covid-19.
A mobilização foi realizada pela Frente Brasil Popular, pela Frente Povo Sem Medo e pela campanha Fora Bolsonaro.
Apesar de os atos reunirem milhares, Barros disse que os protestos foram “dentro da normalidade” e não geraram preocupação no governo —em linha com o discurso de Zambelli.
Já o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) afirmou à Folha que as manifestações foram “pífias e vergonhosas”.
PT e PDT afirmaram que os atos mobilizaram mais pessoas do que o esperado, o que reforça o desgaste do governo diante da condução da crise sanitária.
Embora petistas e outros políticos de oposição afirmem, nos bastidores, que a melhor estratégia é prolongar o desgaste de Bolsonaro até a eleição, alguns nomes da esquerda declaram que o movimento nas ruas levanta discussões sobre um processo de afastamento do presidente.
Vice-presidente nacional do PT, o deputado José Guimarães (CE) disse que há pressão popular para que o Congresso abra um processo de impedimento. “Ninguém pode ficar surdo frente ao que aconteceu ontem [sábado] no país.”
“O presidente [Bolsonaro] é incompetente para gestão da crise da pandemia e ineficiente na apresentação de saída para a grave e brutal crise econômica que o Brasil vive”, afirmou Guimarães.
No entanto, para o presidente do PDT, Carlos Lupi, o cenário ainda não é favorável para um impeachment de Bolsonaro. “É um processo que depende muito do ambiente. É mais político do que técnico-jurídico.”
A partir da mobilização deste fim de semana, Lupi disse que vê com mais otimismo o desempenho do partido em 2022. O candidato a ser lançado deve ser o ex-governador do Ceará Ciro Gomes.
Na avaliação do presidente do PDT, é possível que, com o desgaste do governo Bolsonaro, haja espaço para um segundo turno entre Ciro e Lula.
“A inflação está muito alta. Foram muitos erros nesse governo. Isso deve jogar Bolsonaro apenas para o gueto da direita mais raivosa, abrindo chance para nós no segundo turno”, disse Lupi.
O secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), afirmou que novas manifestações contra o governo devem ser convocadas, mas defende o uso de novos formatos, com menos riscos, como carreatas.
“Há um sentimento de que as pessoas já estão saturadas. Precisam se manifestar e mostrar cansaço em relação a essas políticas dele [Bolsonaro], a essa maneira dele de menosprezar a pandemia”, disse .
Os conflitos entre Lula e Bolsonaro vão ganhando capítulos. Em outro episódio de embate com Lula, Bolsonaro criticou na sexta, um dia antes das manifestações, o padre Júlio Lancellotti, que é próximo de Lula.
O petista postou em uma rede social na semana passada uma foto com Lancellotti e escreveu: “Estou disposto a viajar o país para levantar a cabeça do nosso povo e dizer: esse país é nosso. Esse país não é o país do ódio”.
Bolsonaro, ao comentar o episódio, questionou a integridade de Lancellotti. “Colocam o Lula com um padre pensando que fosse um padre realmente sério, responsável”, disse.
As informações são da FolhaPress
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